Uma casa não se quer grande
DINIS SANTOS
25.11.2018 – 25.01.2019
Paços da Cultura, São João da Madeira
Horário:
segunda a sexta, 9h00–17h30
terça, 9h00–19h30
Esta exposição nasce de um convite que me foi feito pelo Centro de Arte para desenvolver trabalho fotográfico em torno de São João da Madeira. Porém, a génese das imagens que aqui se agrupam é anterior, remonta a um tempo durante o qual voltei a morar aqui, em casa dos meus pais.
A crise, que celebra este ano o seu décimo aniversário, roubava-me algum sono, e as insónias convertiam-se em esperas numa varanda, a olhar os prédios envoltos em montes, ou em deambulações pela
paisagem sanjoanense.
Nessas noites, o real parecia diluir-se plenamente em mercadoria desvalorizada.
Olhava os prédios como subprodutos da indústria do crédito e as ruas como corredores de armazéns onde se depositam as limalhas da finança. Ao amanhecer, a social democracia portuguesa parecia arrastar-se,
sobrevivente, por mais um dia, entre esses bizarros corredores.
Dinis Santos 2018
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O verdadeiro conteúdo de uma fotografia é invisível, pois resulta
de um jogo, não com a forma, mas com o tempo. Pode argumentar-se
que a fotografia é tão próxima da música quanto da pintura.
— John Berger ¹
A paisagem urbana tem sido um dos motivos principais da história da fotografia. Para além de motivos culturais óbvios, talvez seja pelas cidades e as suas paisagens serem elusivas e estarem em permanente mudança que desde o início despertaram o interesse dos fotógrafos. Uma fotografia isola, preserva e apresenta uma imagem num momento, e por isso para além dos edifícios, elementos ou detalhes visuais estes registos fotográficos aportam frequentemente uma camada invisível que é também social e política. Tal como acontece em Uma casa não se quer grande de Dinis Santos.
Dinis Santos (1983) tem vindo a desenvolver um trabalho onde a paisagem é protagonista, podemos referir projetos mais recentes como aquele estranho dia escuro. 25 de novembro (2014) ou ouro, cristal, incenso (2018) onde vistas desta cidade fazem aparições juntamente com outras. O apoio à produção é uma das linhas de ação mais importantes que as instituições artísticas podem perseguir, coloca os autores no centro da ação e proporciona a criação de novo trabalho, contribuindo para a renovação e pluralidade das imagens e dos seus discursos. Por estas razões, para além do inerente valor artístico e fotográfico, Uma casa não se quer grande é um projeto particularmente importante para o Centro de Arte de São João da Madeira.
Andreia Magalhães
¹ “Understanding a Photograph”, Selected Essays and Articles: The Look of Things, 1972 por John Berger