A ria de Aveiro é o tema desta exposição de Aníbal Lemos, que se encontra aberta ao público no Centro de Arte de S. João da Madeira.
São trabalhos a preto e branco, num longo percurso pelas margens da ria, movimentando-se o fotógrafo “num espaço físico caótico e em decadência”, como ele mesmo afirma. A beleza e o convívio secular do homem e dos bichos com as águas serenas e límpidas da grande planura litoral são hoje, em largas extensões, um turvo lamaçal de silêncios, que afugentaram as aves e os lentos e característicos moliceiros.
A objectiva do fotógrafo é agora um olhar de arqueólogo. O que resta nas margens são vestígios antigos, de mastros e proas que tiveram barcos, de arbustos que disfarçaram
movimentos inesperados, de recantos que tiveram abrigos e sons vindos de muitos lados. “Referências internporais” porque, mesmo assim, a ria “permanece na memória”, apesar das afrontas à “sua ambiência poética” e à sua génese. Uma linha ténue e distante mal consegue separar a água e a nuvem – sonho gravado no papel impresso por Aníbal
Lemos. Mais perto ficam o lodo e os detritos. E mais perto ainda … o homem, que já não ama a ria.